Por José Adelino Maltez
Continuando Ortega, confirma-se
que "uma revolução inteira é um processo dialético, em que a tese é dada
por uma certa situação histórica, a antítese por uma ideologia que procura
antepor‑se‑lhe, e, finalmente, a síntese, pela revolução em sentido restrito,
em que se fundem numa unidade nova os elementos anteriores." Mas
qualquer observador de bom senso sabe qual é a diferença entre a ditadura
derrubada em 25 de Abril de 1974 e uma democracia pluralista e de sociedade
aberta. São incomparáveis. O que temos é bem melhor do que estava. A liberdade
vive-se, não precisa de ser demonstrada.
Com efeito, os três principais momentos
criadores deste regime têm a ver, primeiro, com as eleições para a
constituinte, de 25 de Abril de 1975, com resultados anti-situacionistas.
Segundo, quando os restos da carbonária defenderam a emissora católica
portuguesa, contra o assalto da extrema-esquerda. Terceiro, quando Soares, no
comício da Alameda, apoiado pelas estruturas católicas, demonstrou que a força
da rua era favorável ao pluralismo democrático e à sociedade aberta. O 25 de
Novembro de 1975 confirmou o 25 de Abril de 1974 e o PCP continuou no governo.
Infelizmente, há muita gente que não
repara como a esquerda e da direita que temos, ambas nasceram nesse “dia claro
e limpo”. Porque não há esquerda sem direita, nem direita sem esquerda. O resto
é propaganda anti-pluralista, adepta do autoritarismo e do totalitarismo.
Todas as revoluções foram
pós-revolucionárias. 1789 produziu Napoleão. 1917 levou a Estaline. 5 de
Outubro de 1910, o de Machado Santos, gerou Afonso Costa. 28 de Maio de 1926,
dominado pelos republicanos anti-afonsistas, provocou Salazar. O 25 de Abril de
1974, o que teve um PREC, levou a este dia seguinte.
Mas convinha compreender que somos
todos, simultaneamente, filhos do 28 de Maio de 1926 e do 25 de Abril de 1974,
tal como todos temos um avô monárquico e um avô republicano, bem como um bisavô
inquisidor, ou bufo da dita. O inferno está cheio de boas intenções e a
história é apenas mero produto da ação dos homens, concretos, de carne, sangue
e sonhos.
O 25 de Abril não foi um golpe de Estado
nem uma revolução, mas uma onda em espiral que pode fazer renascer cada um de
nós em libertação. Ainda está por cumprir, porque nunca existiu nem vai
existir. Nenhuma das 10 000 000 de teorias científicas sobre a coisa é
verdadeira, a não ser que rime com a verdade íntima de cada um dos projetos de
cidadania.
Porque democracia tanto é o diálogo com
o adversário, como a institucionalização dos conflitos. O 25 de Abril realizou-se.
(artigo originalmente publicado aqui)
(artigo originalmente publicado aqui)
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