Segundo a grande maioria dos politólogos, o 25 de Abril foi um golpe de estado dos militares, por motivos de classe, que acabou numa revolução que trouxe liberdade e igualde a Portugal. Podemos discordar do que se fez nos anos a seguir durante o PREC, ou até como os sucessivos governos nos governaram durante as últimas quatro décadas. Mas uma coisa une os portugueses, é que o 25 de Abril pôs fim a um regime que perseguia, prendia, torturava e até manda matar os seus cidadãos por pensarem diferente do regime, que obrigava os seus jovens contra sua vontade lutar numa guerra que não concordavam, e que a única coisa que dava ao seu povo era guerra, fome, atraso, miséria, e analfabetismo.
Hoje 42 anos depois do 25 de Abril, temos um sério problema de participação política sobretudo sobre os jovens. Metade da população não vota e pior, se formos analisar taxa de abstenção entre os jovens o número é muito maior. A desculpa quase sempre é a governação dos diferentes governos desde o 25 de Abril. Claro que houve muitos erros, má governação, mas não podemos tomar a parte pelo todo. Se esse discurso fosse verdade e explicasse o fenómeno, então tínhamos elevadas taxas de participação política nas áreas que não tivessem a ver com governação politica, e tínhamos elevadas percentagens de trabalhadores sindicalizados, de filiações em partidos e associações cívicas, e altas taxas também de participação jovem em associações cívicas e políticas, mas tal não acontece. Temos um problema real, a falta de participação política, em que a abstenção é apenas uma parte desse problema, e que apesar de ser transversal na nossa sociedade, é ainda mais preocupante entre os jovens.
Assim, no ano em que se comemoram 42 anos sobre o 25 de Abril a nossa grande luta política já não é o fim da ditadura, é sim honrar a conquista da democracia aprofundando-a cada vez mais. O nosso combate deve ser hoje a participação política sobretudo entre os jovens. Precisamos de uma sociedade civil activa, que vote, participe politicamente na sua comunidade, que seja informada e esclarecida, tal como Tocqueville idealizou. Para isso temos que lutar por um ensino do primário ao superior, para todos, plenamente gratuito, com a propina zero, com a gratuitidade dos manuais escolares entre muitas outras medidas. Temos que lutar para voltar a ter formação cívica nas escolas, reformulada em formação político-cívica. Ao nível da governação é urgente aproximar governados e governantes, reformulando o sistema eleitoral, revendo o financiamento partidário criando mecanismos de transparência e de accountability, e de promover uma maior taxa de renovação na A.R. entre muitas outras reformas urgentes que são necessárias.
Assim, 42 anos depois, Abril deve ser o combate à falta de participação política, aprofundando a democracia sobre o risco de falência da mesma. Não digo que só estas possíveis soluções resolviam este problema grave e estrutural na nossa sociedade, mas se lutássemos e fizéssemos algumas destas reformas, dávamos um grande passo, cumprindo e honrando Abril, pois cumprir Abril é aprofundar a democracia!
João Gonçalo
(artigo originalmente publicado aqui)
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