O presente texto apresenta-se como um excerto da introdução de um trabalho de âmbito académico realizado por André Pacheco, membro do secretariado da JS Alcântara e aluno finalista de Ciência Política.
Posto isto, partimos, portanto, do entendimento de que a opinião pública tem influência nas políticas públicas, mesmo que o eleitorado não tenha essa percepção. Este ponto remete-nos para a ideia que eleitor típico tem de que é incapaz de determinar o curso de uma política pública, a sua construção ou processo (Erikson, Mackuen e Stimson, 2002: 284). No entanto, a auscultação da opinião pública torna-se tanto mais relevante por parte do poder político, quanto a sua necessidade de antecipar os efeitos eleitorais da opinião pública. Ou seja, se determinada política pública procura acolher a satisfação do eleitorado, os políticos têm a necessidade de ajustar as suas intenções com as intenções e necessidades dos cidadãos (Erikson, Mackuen e Stimson, 2002: 284-285). Uma política pública ineficaz ou mal acolhida por parte da opinião pública poderá colocar em causa a reeleição do titular do cargo político. A tomada de consciência por parte do indivíduo e, por consequência de uma sociedade civil esclarecida, tem implicações no próprio plano da orientação e comportamento do representante político (cf. Pasquino, 2002, Wahlke apud Martins, 2008: 31).
A política pública, em sentido lato, consiste «no somatório total de leis e regulações que dão resposta a um conjunto particular de questões/problemas» (Erikson, Mackuen e Stimson, 2002: 285). Contudo, e reconhecendo que a formulação de uma política pública obedece a uma interacção sistémica, a própria formulação desta tem, no presente caso que apresentamos, que ter em consideração a volatilidade da opinião pública. É neste sentido que se fala em Policy Change, isto é, a reformulação de uma política pública já existente ou mesmo a criação de uma nova que dê a resposta conveniente ao problema colocado. Por conseguinte, a apresentação de tal política pública cria consequências, Policy Consequences, que terão sucesso ou, não o tendo, desencadearam um novo processo de formulação de políticas públicas (Erikson, Mackuen e Stimson, 2002: 284-286).
Esta matéria assume particular relevância quando procuramos definir o próprio conceito de “opinião pública”, uma realidade abstracta, não prevista constitucionalmente, não institucionalizada e sem existência jurídica, composta por uma massa anónima e geograficamente dispersa (Espírito Santo, 2006: 38-45). Aquilo que procuraremos explorar neste trabalho será, do ponto de vista teórico, compreender o fenómeno que relaciona o comportamento e o foco dos representantes políticos com as exigências do eleitorado, no geral, e da opinião pública, em concreto. É que apesar de constituir uma realidade abstracta, a opinião pública, no nosso entender, assume-se como uma força política implícita que é determinante num espaço público mediatizado, ao qual o poder político tem de dar resposta (Truman, 1981: 217).
Daqui resulta que os representantes políticos, os decisores políticos, são objecto de pressão constante. Pressões efectuadas por parte dos partidos que representam, dos partidos que se lhe opõem, de grupos de interesse, da comunicação social, de movimentos sociais e, obviamente, de cidadãos-eleitores (Lazarsfeld, 1964: 188-189). Importam-nos estes últimos na medida em que são eles, de facto, quem decide quem, através do voto, consente e dá legitimidade à acção dos governantes. Como é de notar, a vida política não se reduz às eleições, pelo que entre eleições são formuladas, entre outras acções, políticas públicas, respostas concretas por parte dos decisores políticos a problemas colocados pela comunidade política em geral.
Ora, importam-nos os cidadãos-eleitores, pois são eles o campo de batalha política, e tal batalha expressa-se na definição da opinião pública. Ou seja, se, por um lado, os partidos políticos podem funcionar como representantes de opinião e nessa medida tanto «criarem como exprimirem «opinião pública»1 (Martins, 2008: 110), por outro lado, também a Comunicação Social, os media, formam opinião pública, independentemente de posições mais minimalistas ou mais construcionistas, que abordaremos adiante, a verdade é que, tratando-se de uma opinião pública marcada por uma “pseudo-atitude” ou por um maior “interesse” esclarecido, existe opinião que funciona como um dos vários inputs, expressando exigências ou necessidades, no sistema político.
Na síntese de Martins, de uma perspectiva que reflecte a representação política como uma sequência de acções, diremos que «os cidadãos, por via dos mecanismos eleitorais, formulam preferências e legitimam os governantes; os partidos articulam e agregam as preferências traduzindo-as em programas de acção política que orientam a acção e as decisões dos governantes; os aparelhos de governo implementam as decisões, cujos resultados podem ou não ser aceites pelos cidadãos e que influenciarão o novo processo de selecção de governantes» (2008: 26).
André Pacheco, membro do secretariado de Alcântara